“... ninguém é mais interessado na conservação do Pantanal do que quem vive e produz nele há quase 300 anos.”
Fonte: https://www.midianews.com.br/opiniao/guardiaes-do-pantanal/384732
Oficialmente registrada, a pecuária, como atividade econômica sistematizada, está presente no Pantanal desde 1737, ou seja, há 283 anos o homem pantaneiro está instalado no Pantanal, criando gado. Cerca de 95% da área do bioma pertence à propriedades privadas e a atividade pecuária é desenvolvida em aproximadamente 80% de sua área. Na década de 1940 cerca de 80% do rebanho estadual se encontrava no Pantanal.
Durante anos esta foi a região mais importante do Estado de Mato Grosso, tratada como matriz econômica e com grande força política, que ficou ao sul, quando da divisão estadual e de onde hoje se destaca a Ministra da Agricultura Tereza Cristina, de família pecuarista no Pantanal.
Com a força da soja, o protagonismo político se deslocou no Estado de Mato Grosso para o seu eixo de produção agrícola e o homem pantaneiro, e sua secular atividade produtiva, acabou desguarnecido politicamente e organizações ideológicas foram criminalizando suas atividades e procurando esvaziar a atividade pecuária na região, um erro gigantesco.
É interessante observar que, de acordo com dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, após quase 300 anos de atividade pecuária na região, o Pantanal é o bioma mais preservado do Brasil. A pesquisa Contas dos Ecossistemas: Uso da Terra nos Biomas Brasileiros aponta que 87,5% da cobertura natural do Pantanal, que inclui: as vegetações florestal e campestre e a área úmida está intacta e que o bioma foi o que sofreu menores perdas percentuais em área original, cerca de 1,6% apenas entre 2000 e 2018.
Enfatiza-se, como já exposto acima, que a região possui 95% do seu território pertencente à propriedades privadas e que sua principal ocupação é a pecuária de corte, presente em 80% de sua área e que foram estas propriedades privadas, conduzidas pelo homem pantaneiro que conseguiram preservar secularmente 87,5% da área original da cobertura vegetal do Pantanal, demonstrando efetivamente, na vida real e prática e não em laboratórios e instituições de pesquisa (muitas inclusive, localizadas a milhares de quilômetros do Pantanal) que quem cuida da preservação do bioma é o homem pantaneiro.
A conservação do Pantanal é mais efetiva quando protagonizada pelos pantaneiros e por sua vocação natural para a pecuária, atividade que tem se mostrado, há quase 300 anos, como mais sustentável que muitas medidas protetivas geradas em salas de pesquisas. Como alertam Arnildo Pott e Xico Graziano:
http://www.seb-ecologia.org.br/revistas/indexar/anais/viiiceb/palestrantes/apott.pdf
https://www.poder360.com.br/opiniao/economia/a-importancia-do-boi-bombeiro-por-xico-graziano/
Na ausência de gado bovino, escreveu Arnildo Pott há 20 anos, ocorre “rápida sucessão para gramíneas altas do tipo pristino, morrendo sombreadas ervas prostradas e de menor porte, como Arachis, Bacopa, Burmannia, Polygala, Reimarochloa, Schultesia, Stenandrium, Cyperaceae, Eriocaulaceae, etc. Em fazendas desativadas e reservas tais como a RPPN SESC Pantanal e o Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro, a remoção do gado promove sucessão para gramíneas cespitosas e acúmulo de biomassa seca, um difícil desafio ao controle de incêndio.”
Um ponto bastante simplista, (ou feito para induzir ao erro mesmo) na argumentação das organizações ambientalistas é que o gado nos municípios do Pantanal está crescendo.
Pois bem, o Estado de Mato Grosso possui quinze municípios em área do bioma Pantanal e que, com exceção de um, nenhum dos outros apresenta totalidade de seu território no bioma: Barão de Melgaço (100%); Cáceres (85%); Poconé (84%); Santo Antônio do Leverger (62%); Porto Esperidião (41%); Nossa Senhora do Livramento (34%); Curvelândia (33%); Itiquira (23%); Mirassol D’Oeste (21%), os demais não possuem nem 20% do território em área do bioma.
Pois bem, onde alega-se que houve aumento no plantel nos municípios do Pantanal foi fora da área do bioma possivelmente, onde as condições logísticas, legais e de competitividade, principalmente, são melhores. Para se afirmar com precisão que o aumento de plantel ocorreu especificamente dentro do bioma Pantanal teria que se realizar um estudo específico para o bioma. De acordo com dados da Acrimat - Associação dos Criadores de Mato Grosso menos de 15% do rebanho dos municípios está em área do Pantanal, também a confirmar.
Outro dado importante para a questão é que, com dados de 2016, a produção agropecuária da região gerou 23,66 mil empregos, entre diretos, indiretos e induzidos. Somente a bovinocultura gerou 12,92 mil empregos, entre diretos, indiretos e induzidos.
A legislação (Lei 8.830/2008) também é um fator impeditivo ao manejo das propriedades no Pantanal, impossibilitando o fogo controlado, a limpeza do pasto e a formação de pastagens, estas áreas, sem manejo, acumulam matéria-orgânica e tornam-se altamente combustíveis. Sem o manejo a pecuária se inviabiliza em muitas propriedades, que acabam por ser abandonadas.
É interessante que, objetivamente, a legislação e a atuação das ONG”s têm sido os principais agentes da situação atual do Pantanal, com muita matéria-orgânica para queimar em incêndios de grandes proporções, que são imputados aos pecuaristas pantaneiros, que, como apontado em um meio de comunicação: “ são fazendeiros que lucram com a criação de gado no Pantanal”. Pois bem, como se o lucro não fosse uma coisa boa, que gera investimentos, empregos e renda para outros setores e, quando na verdade, são os “fazendeiros” da região que cuidam dela há séculos e são, hoje, nestes grandes incêndios, cerca de 90% da mão de obra que os combate.
Realmente, o discurso e as ações dos ambientalistas motivados por ideologias estão na contramão do que se precisa fazer para a efetiva preservação do Pantanal, que inclui também a cultura do homem pantaneiro, seu secular modo de viver e as características da atividade pecuária pantaneira que promoveu, durante quase 300 anos a sustentabilidade do bioma.
São o pantaneiro e o pecuarista que têm o maior prejuízo com as queimadas no Pantanal, perdem gado, perdem pastos, perdem cercas e benfeitorias, têm que gastar com mobilização do rebanho, com alimentação com ração. Estes são os maiores prejudicados, imputar-lhes culpa é doutrinação ideológica contra quem produz e preserva, é querer impor uma agenda que não cabe no Pantanal e nem em grande parte da sociedade.
Ao contrário do que prega esta agenda ideológica é necessário que se revise a legislação tornando-a compatível com os reais preservadores da região e que se valorize a pecuária no Pantanal, o homem pantaneiro e sua cultura que há varias gerações mantém este bioma em equilíbrio.