5 de fev. de 2018

RESÍDUOS SÓLIDOS – LUCRATIVIDADE PARA SOLUÇÕES AMBIENTAIS E ENERGÉTICAS.

O Gerenciamento Sustentável dos Resíduos Sólidos demanda, efetivamente, sua sustentabilidade econômica; mais que isso, deve ser lucrativo o suficiente para ser atrativo do ponto de vista empresarial. Em meu entendimento, para que uma atividade seja sustentável ela tem que, obrigatoriamente, ser rentável, atraindo o empreendimento privado e deixando cada vez mais a dependência do poder público. É interessante observar, neste sentido, como a possibilidade de se auferir lucro fez com que fossem reciclados diversos resíduos, anteriormente destinados  a lixões ou mesmo à sua deposição no meio ambiente. O lucro da reciclagem foi essencial neste processo, criando empresas, empregos e renda no segmento. Entretanto, ressalta-se que outras possibilidades de aproveitamento dos RSU’s – Resíduos Sólidos Urbanos são possíveis, gerando lucro, emprego e sustentabilidade.
De acordo com dados do PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a produção mundial de lixo deve se aproximar de 2,2 bilhões de toneladas em 2025, um aumento de 69,23% em relação ao 1,3 bilhão de toneladas atual. Esta majoração será decorrente, de acordo com os dados da ONU – Organização das Nações Unidas, do maior número de pessoas inseridas na classe média no mundo, que se aproximará dos 5 bilhões, ampliando os padrões atuais de consumo e geração de resíduos.
No Brasil, segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, elaborado pela ABRELPE – Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais os RSU’s – Resíduos Sólidos Urbanos gerados em 2016 foram da ordem de 78,3 milhões de toneladas, um decréscimo de 2% em relação ao ano anterior, fruto do próprio encolhimento da economia nacional. Neste mesmo ano foram coletados cerca de 71,3 bilhões de toneladas, representando 91,03% de resíduos gerados no país.
Dados elaborados pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e pela ABRELPE indicam que somente 58,4% destes resíduos foram enviados para aterros sanitários. Dos 5.570 municípios brasileiros (IBGE, 2016), 3.331 (59,80%) não dispuseram adequadamente seus resíduos sólidos, enviando cerca de 29,7 milhões de toneladas de resíduos para lixões, o que representa 41,65% de todo o lixo coletado em 2016.
O ano de 2016 apresentou uma queda de 2% na geração de RSU’s em relação ao  ano anterior, caindo de uma média de 218.874 toneladas/dia para 214.405 toneladas/dia. Segundo dados do IBGE, estes valores representavam, respectivamente, 1,071 Kg por habitante/dia em 2015 e 1,040 Kg por habitante/dia em 2016. A coleta seletiva de lixo é feita por 87,2% dos municípios da Região Sudeste; a Região Centro Oeste, entretanto, possui apenas 43,3% de seus municípios com coleta seletiva de lixo.
No Brasil, em 2015, haviam 353.426 pessoas empregadas nas atividades de limpeza urbana, sendo 57,56% na iniciativa privada e 42,43% pertencentes ao setor público. Este número total caiu em 2016 para 335.669 pessoas empregadas nas atividades de limpeza urbana no país, uma queda de 5,02%. A Região Sudeste ocupou a maior parte destes postos de trabalho, cerca de 43,60%.

No total, o mercado de limpeza urbana no Brasil alcançou R$ 27,347 bilhões em 2016, sendo 54,51% referentes à Região Sudeste. Estes valores são computados como custos para as administrações públicas, especialmente as municipais, que são diretamente responsáveis pela limpeza urbana. Entretanto, há outras formas de se solucionar a disposição dos RSU’s e ainda gerar empregos, renda e energia.
As usinas de geração de energia a partir de RSU’s são uma solução neste sentido. Em função de seu alto custo de processamento foram implantadas inicialmente em países desenvolvidos, o que ocorre também em função da característica do RSU destes países. De acordo com a EPE – Empresa de Pesquisa em Energia, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, a baixa porcentagem de matéria orgânica no RSU é favorável à sua transformação em energia em função do baixo Poder Calorífico (PC) deste tipo de resíduo.

Fonte: CEMPRE – Compromisso Empresarial para a Reciclagem.

O PC – Poder Calorífico de um material é a energia liberada por sua combustão, variando em função de sua umidade. É dividido em PCS – Poder Calorífico Superior e PCI -  Poder Calorífico Inferior. O PCS considera que a água contida no material a ser queimado não evapora no seu processo de combustão, o PCI, ao contrário, considera sua evaporação. Para que a água evapore é necessária energia, o que justifica o valos do PCS sempre ser maior que o PCI. A borracha, por exemplo, de acordo com a EPE, possui um PCI de 6.780 Kcal / Kg, superior aos alimentos (matéria orgânica), cujo PCI é de 1.310 Kcal / Kg.
Como no Brasil a porcentagem média de matéria orgânica nos RSU’s é de aproximadamente 50%, segundo dados da CEMPRE, seu PCI é pequeno. Em países desenvolvidos este percentual de matéria orgânica no RSU é muito mais baixo, nos Estados Unidos é de 12% e na França 23%, aumentando o PCI de seus resíduos.
No Japão e na Europa são pagos, como TDF- Taxa de Destinação Final, o equivalente à R$ 250,00 por tonelada de RSU para as empresas que lhes dão adequado destino; no Brasil este valor é de aproximadamente R$ 6,00 por tonelada de RSU. Este valor da TDF viabiliza o processo de combustão e filtragem de gases, que são extremamente complexos.
Para minimizar estes custos criou-se o CCO – Ciclo Combinado Otimizado, onde associa-se a queima do RSU à utilização de gases emanados dos aterros sanitários ou mesmo gás natural.
Já instaladas no Brasil, estas usinas podem obter renda a partir da coleta do RSU, da venda do crédito de carbono e da venda da energia elétrica gerada em suas dependências a partir da utilização do gás metano, oriundo da decomposição do lixo. Em São Paulo, por exemplo, funciona uma usina que produz, por este processo, energia suficiente para suprir a necessidade de uma cidade de 400.000 habitantes.