O IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, em seu mais recente relatório, aponta que a produção mundial de alimentos sofrerá um severo impacto, em função das aceleradas mudanças climáticas, que ora ocorrem no planeta em decorrência do aquecimento global.
O aumento da temperatura, segundo os cientistas do painel, é uma ameaça ao cultivo de várias espécies e deve agravar o problema da fome mundial, especialmente porque os mais afetados seriam os países pobres da Ásia e da África, embora grandes produtores agrícolas como o Brasil e os EUA também tenham suas produções ameaçadas. Éimportante destacar que já na próxima década estes efeitos poderão ser sentidos.
A agricultura sempre teve riscos de natureza climática, contudo, com o avanço da tecnologia favoreceu-se o estudo e o subsequente zoneamento das áreas de produção, possibilitando-se antever quais destas são mais ou menos suscetíveis aos rigores do clima, incorporando-as ou não ao sistema produtivo. Com a mudança do clima, já na próxima década repito, a geografia da produção naciona e mundial deve mudar. Regiões que hoje são grande produtoras de alimentos poderão não ser mais já em 2020.
No Brasil, pesquisadores da EMBRAPA e da UNICAMP, especialistas em zoneamento de riscos climáticos, estudam, já há algum tempo, como as mudanças climáticas podem afetar a produção agropecuária nacional. Os primeiros estudos foram com a cultura do café arábica. Percebeu-se que tendo como vetor o aquecimento global, esta cultura pode se deslocar para o sul e diminuir sua área de baixo risco. Mais recentemente estes estudos se estenderam a outras culturas, tais como: algodão, arroz, cana, feijão, girassol, soja, milho e mandioca. Foram também estudadas as pastagens e a criação de gado de corte. Os resultados anteriores se confirmaram, tendendo estas culturas ao deslocamento para o sul e diminuindo sua área de baixo risco. Observou-se, ainda, a possibilidade da diminuição de regiões aptas à produção de grãos. À exceção da cana e da mandioca, as outras culturas podem sofrer um aumento no custo de produção, em função da diminuição de suas áreas de baixo risco de plantio, na medida em que este risco é um dos componentes dos cáculos para financiamentos agrícolas.